Justice lança “Hyperdrama”, disco complexo e competente após 8 anos
Por Leandro Alsaro
O duo francês de música eletrônica Justice lançou nesta sexta-feira (26) seu aguardado álbum “Hyperdrama”, um disco novinho em folha após 8 anos desde “Woman”. O hype tem sido grande desde o lançamento dos primeiros singles e o anúncio de parcerias como Tame Impala e o cantor norte-americano Miguel, além do badalado Thundercat. A expectativa cresceu ainda mais após as bem recebidas apresentações no Coachella Festival deste ano, mostrando que o que viria seria algo muito interessante.
Gaspard Augé e Xavier de Rosnay, disseram ao New York Times em entrevista após a primeira apresentação no Coachella: “Um disco não foi feito para ser totalmente compreensível na primeira vez que você o ouve”. E é exatamente essa impressão na primeira audição de “Hyperdrama” que se destaca, pela qualidade das faixas, mas com músicas cheias de camadas, um disco dividido em atos. Mas antes de nos aprofundarmos no novo lançamento do duo, você deve estar se perguntando: quem é o Justice?
Augé, 44 anos, e de Rosnay, 41 anos, conheceram-se através de amigos em comum quando eram jovens designers gráficos, decidindo mais tarde dedicar-se totalmente à música. “Em algum momento, tivemos que escolher: você prefere passar a vida na frente de um computador ou passar a vida na frente de um computador?” Augé brincou em entrevista ao New York Times. Desde 2003, foram lançados 3 álbuns, e o maior sucesso do duo é um remix da ótima “Never Be Alone” da dupla britânica Simian Mobile Disco. Claro que comparações entre o Justice e o Daft Punk vão existir, mas há uma análise muito interessante do chefe da gravadora Ed Banger, Busy P para a NME (que já administrou The Robots) – mas simplistas. Enquanto Daft Punk fazia música para o coração e a cabeça, as imagens influenciadas pelo rock e o material abrasivo do Justice eram mais para levar alguém até o estômago. Ou seja, o som do Justice é mais emocional, mais orgânico.
Feita essa breve explicação, podemos mergulhar de vez em “Hyperdrama”, uma viagem mais que musical, mas sensorial, como dito anteriormente, dividida em atos. E você percebe isso em cada transição de faixa; o disco soa harmonioso, porém complexo. Cada faixa conta uma história ou te prepara para outra. A dupla, que produziu tudo sozinha, disse à Apple Music: “Em nossa banda, somos o Rick Rubin (produtor musical) um do outro, em certo sentido”, continuou Xavier. “Em Justice, eu sou o produtor do Gaspard e ele é meu produtor. Estou sempre aqui para te dizer tudo bem, pense diferente, tente outra coisa, poderia ser melhor”. E o resultado é espetacular! O disco começa pela ludibriante “Neverender”, primeira participação do Tame Impala no disco, dando sentido que está começando um ciclo sem fim, e já emenda na maravilhosa “Generator”, para a NME, a melhor música do disco, e segue numa toada alucinante com “Aftermage”, parceria com Rimon, que emenda com a segunda participação do Tame Impala na gostosa e radiofônica “One Night/All Night”. Quando você chega nesse ponto do álbum, já está completamente absorvido. Daí não há mais parar, meus caros! Em seguida, “Hyperdrama” te prepara para o que há de vir, com a tranquila “Dear Alan”, seguida pelas faixas “Incognito” e “Mannequin Love”, com uma mixagem genial que não permite distinguir o fim de uma e o começo da outra, encerrando o primeiro ato de “Hyperdrama”.
Em seguida, o Justice te leva para uma viagem espacial em “Moonlight Rendez-Vous”, “Explore” e “Muscle Memory”. É incrível como as faixas se conversam! E parece que não há mais volta nesse ponto, o duo te traz de volta à Terra com muita habilidade, com “Happy Dream”, “Saturnine”, outra faixa muito radiofônica que conta com a participação do já citado Miguel, e termina com a irônica “The End”, encerrando assim os dois atos do teatral “Hyperdrama”.
“Hyperdrama”, pelo seu cuidado ao ser produzido e pelas sensações que proporciona, mesmo que na primeira ouvida soe estranho, já pode com certeza ser considerado um dos melhores discos de 2024, por sua riqueza de elementos. Veremos o novo trabalho do Justice nas listas dos melhores lá no fim do ano, um ano cheio de bons discos, e este já entra para esse panteão. Dê uma chance, ouça, mas ouça com calma – é diversão garantida!
Ouça Hyperdrama do Justice na integra:
Justice e Tame Impala One Night / All Night