Documentário do The Black Keys tem estreia no SXSW 2024
Por Rogéria Vianna, de Austin, Texas
O duo de rock The Black Keys retornou ao festival South by Southwest (SXSW), em Austin, dessa vez para lançar seu documentário. A banda também fez alguns shows na cidade como parte da programação do evento.
“This Is a Film About the Black Keys” teve o título inspirado na capa do álbum best-seller “Brothers” onde lia-se “This in an album by The Black Keys. The name of this album is Brothers”. O filme foi dirigido por Jeff Dupre, que já havia trabalhado com a banda na série de 2016 “Soundbreaking: Stories from the Cutting Edge of Recorded Music”, e narra a jornada de Dan Auerbach e Patrick Carney desde o seu início como jovens universitários tocando em um porão em Akron, Ohio, até o estrelato do rock ‘n’ roll.
Dan era atleta, extrovertido e, apesar de ter nascido em uma família de músicos, não se interessava em seguir o mesmo caminho, até que começou a tocar guitarra e se apaixonou. Patrick era nerd e já era guitarrista há um tempo. Eles cresceram morando perto um do outro mas mal se conheciam e, apesar de seus estilos totalmente diferentes, descobriram uma conexão musical e fizeram suas primeiras gravações. Como os dois eram guitarristas, Carney decidiu assumir a bateria e deixar a função para Auerbach, que também era vocalista, e o trabalho deles fluiu bem juntos. Chegaram a tentar incluir outros integrantes, mas ninguém se encaixou ao estilo então resolveram seguir como dupla. Atravessaram os EUA em uma van velha (que foi homenageada na capa do álbum El Camino), com dinheiro contado, apresentando-se em clubes de categoria duvidosa e dormindo em hotéis de beira de estrada.
Seu álbum de estreia, gravado em 2001, levou quatro estrelas pela revista Rolling Stones quando o crítico de rock Peter Relic fez uma brilhante análise sobre o trabalho.
Eles foram ganhando espaço no mercado, conquistando fãs e prestígio. Essa história também é narrada no filme por outros personagens, como Beck, o astro do rock que os adotou como banda de abertura de seus shows, seus primeiros agentes, críticos e até a primeira esposa de Auerbach, que conta como o sucesso da banda pôs fim ao seu casamento com o músico.
O impressionante acervo de filmes desde seus primeiros dias e os depoimentos de Auerbach e Carney sobre sua história traz uma grande carga emocional ao documentário, que retrata bem esse “casamento arranjado”, como muitas vezes foi mencionado. É interessante ver essa complexa relação, sua incrível compatibilidade musical, mesmo diante da incapacidade de conversar um com o outro sobre outros aspectos importantes de suas vidas.
Como durante um momento depressivo de Carney, que passava por problemas em seu casamento, enquanto Auerbach dedicou-se a projetos solo e paralelos que manteve escondidos de seu parceiro, resultando no disco de 2009 chamado “Keep It Hid” (“Mantenha Escondido”). Carney diz que se sentiu “muito enganado” e houve um afastamento entre os dois.
Poderia ter sido o fim do Black Keys, mas eles se reuniram ao receber o convite de Damon Dash para colaborar em um álbum de rock/hip-hop chamado Blackroc e foi uma virada de chave para eles, que buscavam novas abordagens para sua música. Então uniram-se ao produtor Danger Mouse e lançaram seu álbum de sucesso de 2010, Brothers, que incluía o hit “Tighten Up”. A música foi um grande sucesso, levou o Grammy e tornou a dupla presença constante em programas de TV, rádio e shows.
Depois de Brothers, lançaram o álbum El Camino, de 2011, com hits como “Lonely Boy” e “Gold on the Ceiling”, e novamente se firmando como a maior banda de rock da época, agora já fazendo grandes turnês e shows em arenas lotadas.
Um episódio curioso mostrado foi a polêmica criada em 2014, quando Carney fez uma piada sobre Justin Bieber para uma equipe do TMZ e passou o ano seguinte sendo perseguido pelos fãs do cantor canadense.
A exaustão das turnês e os dramas de suas vidas pessoais impactaram diretamente Auerbach e Carney e foi o início de uma segunda rachadura e outro hiato, dessa vez mais prolongado – os dois passaram cinco anos praticamente sem contato.
Em 2019, eles se reconectaram para a gravação do álbum “Let’s Rock” e retomaram o vínculo forte, apesar dos altos e baixos de sempre. Agora, The Black Keys se prepara para lançar seu quarto álbum em cinco anos, depois de Let’s Rock, Delta Kream de 2021 e Dropout Boogie de 2022.
O álbum Ohio Players, previsto para 5 de abril desse ano, conta com participações de Beck e Noel Gallagher, cujas cenas das gravações fazem parte do documentário. Auerbach e Carney afirmam que querem levar a carreira de forma mais tranquila, sem os excessos e tensões de antes. Auerbach, no final do filme, conclui: “Somos apenas duas pessoas muito teimosas, destinadas a ficar juntas para toda a eternidade.”
O sucesso está de volta para The Black Keys e, com ele, a certeza de que estavam destinados a seguir sempre juntos, os dois caras do interior de Ohio que só queriam fazer música e acabaram reinventando o blues.