O duo de rock experimental paulistano Lumee//Prismo faz um lançamento duplo nas plataformas digitais: o terceiro single Disease com o clipe. A música, que faz parte do EP Ovis Aries integra o selo Maxilar, do Gabriel Thomaz (Autoramas) e Henrique Roncoletta (NDK), lançado em fevereiro de 2021 com foco na diversidade musical. O duo traz Luma Garcia (Lumee – vocais, piano e synths) e Guilherme da Matta (Prismo – guitarra).
O software de áudio Ableton foi o mecanismo para a criação dos sons que somaram à voz macia e forte, ao mesmo tempo, de Lumee, e à guitarra de Prismo. A sonoridade proporcionada pelos artistas flerta com o contemporâneo. “Fiquei pirando e pensando em sons que poderiam se transformar em uma espécie de “meditação do mal”; uma meditação “ao contrário” que, ao invés de me acalmar, anunciasse meus medos. Sons que me trouxessem à mente coisas que não gosto do meu cotidiano”, diz Luma.
Disease foi a música mais difícil de criar. Demandou tempo, muitas experimentações e lidar com o novo. O resultado final hipnotiza e encanta.
“Foi a música que eu e o Guilherme tivemos mais dificuldade para terminar e que nos deixou mais inseguro em relação ao resultado, até recebe-la mixada e masterizada pelo Yuri, que foi quando a gente se apaixonou por ela. Ele fez um trabalho maravilhoso. É a música mais doida do nosso EP. Traz muitas experimentações de synth e de guitarra, então foi muito difícil construí-la, mas aprendemos a amar essa música e ela se tornou o momento mais importante do nosso processo artístico até aqui. A gente se desafiou muito como duo, tivemos que sair muito da zona de conforto, mas foi ótimo”, completa a cantora.
Guilherme define como um dos maiores desafios composicionais. “Quando a Luma mostrou a primeira versão ela já parecia pronta, quase sem nenhum espaço para colocar linhas de guitarra. Como transformar uma música que já funciona por si só em uma composição Rock? Para resolver esse problema tentei imaginar linhas de guitarras fora do convencional. Na primeira parte da música, abandonamos os riffs e tentamos apresentar a guitarra como um instrumento de sopro, algo que costurasse a composição e trabalhasse como uma voz de apoio para a melodia vocal. Na segunda parte da composição colocamos a guitarra fazendo vários barulhos que representavam esse caos, essa meditação ‘ao contrário’. Para concluir, um solo de guitarra puxa esse caos para um final mais roqueiro e visceral”, explica Guilherme.
A letra de Disease propõe uma análise de tudo o que nos rodeia e questiona se realmente escolhemos viver as experiências que colocamos em prática durante a existência. “É uma das músicas mais pessimistas que escrevemos, onde nos perguntamos se ainda vale a pena lutar e ter esperança, mesmo parecendo que vivemos numa prisão sem saída. O mundo se tornou muito complexo e para estarmos nele precisamos cumprir vários requisitos, tantos que nem vivemos a nossa vida de verdade. Temos tantas formas de distração, responsabilidades, sofremos tantas formas de manipulação e pressões que não sobra tempo para sentir, amar, pensar, descansar, fazer nada. Isso desencadeia uma série de transtornos mentais em uma quantidade cada vez maior de pessoas, cada um com sua particularidade em resposta a tudo isso”, afirma Luma.
“A música se chama “Disease” em referência à doença em si, como se ela, agora, se tornasse um personagem que a gente pudesse conversar”, explica. O processo do clipe foi intenso, segundo os artistas. “Revisitamos muitas coisas. Eu e o Gui estamos em processo de terapia há algum tempo e queríamos usar o espaço desse clipe para um processo de cura de alguns medos nossos. Quando estávamos conversando sobre o que fazer, tivemos a ideia de personificar nossos próprios medos, de tal forma que pudéssemos olhar diretamente nos olhos deles e conseguir respostas”, conta Luma.
“Os traumas e medos do Gui viraram esse personagem com dificuldade de enxergar e os meus, a própria personificação do anjo caído, a personificação do mal. Usamos esse espaço do clipe para brincar com nossos medos, da mesma forma que uma criança que tem medo de escuro brinca de gato mia e, percebendo que tudo ficou bem depois dessa brincadeira, perde o medo. Acreditamos que a arte é a forma de brincar dos adultos e, com isso, a gente consegue resolver questões pendentes. Então, demos esse espaço para nossos demônios”, relata.
“O processo não foi nada fácil! Conseguir traduzir seus medos, inseguranças e paranoias nunca é simples. Pegar tudo isso e transformar em arte é libertador, mas doloroso. Todos nós temos medos irracionais que muitas vezes estão ligados com traumas. Tenho muito medo de perder a visão e por isso o meu personagem sofre para enxergar através da máscara. É doloroso e aflitivo. Durante todo o clipe eu tento ver através de um buraco mínimo, representando a minha tentativa de enxergar o que realmente está acontecendo”, diz Guilherme.
O clipe foi bastante inspirado em temas litúrgicos, transformando os demônios em santidades.