“Novo disco do Camisa de Vênus foi motivado pela raiva”, diz Marcelo Nova

O Camisa de Vênus anunciou o lançamento de seu décimo álbum de inéditas, intitulado “Agulha no Palheiro”, para 16 de agosto. O trabalho contará com 10 novas canções que chegam para celebrar os 40 anos de história da banda. Para falar sobre esse novo disco, a 89 A Rádio Rock conversou com o vocalista Marcelo Nova, que deixou claro que a essência de irreverência da banda continua intacta. No entanto, a pandemia acabou deixando marcas.

“Posso te dizer que esse nosso novo álbum foi muito, mas muito mesmo, motivado pela raiva. Quando eu estudava no Colégio Antonio Vieira [de Padres Jesuítas], em Salvador, me ensinaram que a raiva era um sentimento negativo, que você não poderia ter raiva porque isso não te levaria a lugar nenhum, que você precisava cultivar o amor e os sentimentos positivos no seu coração… mas eu percebi que esse discurso era mentira pura e simples. Eu canalizei toda a minha raiva de não poder trabalhar, de não poder assumir meus compromissos”, disse o músico lamentando a parada imposta pela crise de covid-19. Ele acrescentou: “É muito fácil falar ‘fique em casa’, ‘não aglomere’, ‘use máscara’, quando você está com seu salário no bolso, no seu ar-condicionado, fazendo seu home office e pedindo o seu delivery. Eu queria ver essa gente no lugar de músicos, de rodies, de técnicos de som, de luz, de donos de bares, do pessoal da segurança”.

O “novo normal” será destacado em uma das faixas do novo álbum do Camisa de Vênus , mas as pautas sarcásticas são o prato principal. Marcelo lamenta que as principais características da banda sejam vistas atualmente como coisas negativas: “Hoje, em função de todo esse mimimi, as pessoas não sabem o que é sarcasmo ou ironia. Quando você dá umas tiradas, daquelas boas, de cunho irônico, as pessoas não entendem”. Questionado se há mensagens no novo álbum que podem ser compreendidas pela nova geração ou faixas que podem virar uma dacinha no TikTok, comentou: “Eu vou fazer 70 anos. Não posso ficar fazendo musiquinha pra adolescente. Eles têm seus representantes que, eventualmente, vão falar a mesma língua deles. Eu não me coloco nessa missão de que meus textos sejam representativos para quem tem 15, 16, 17 anos de idade. De jeito nenhum. Até porque eu fui maturando o meu trabalho. Fui como carpinteiro de minha obra, fui percebendo onde eu era bom, onde eu não era tão bom, mas sempre buscando a essência”.

A criação de novo público é algo que não preocupa Marcelo. Ele entende como natural a chegada de fãs mais novos e cita como exemplo o show de 2018 que a banda fez com casa lotada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e que rendeu um DVD. “Nós olhamos para a plateia e tinha gente de todas as idades. Era uma heterogeneidade impressionante. Então, diante dessa constatação, de que o pai mostrou para o filho e o filho gostou e saiu atrás, fica claro que essa nova geração se deixa seduzir pelas nossas músicas”. Marcelo acredita que uma “evolução sonora” presente no novo trabalho também pode colaborar nesse processo. “O disco está muito selvagem, musicalmente falando. Têm duas baladas e as outras oito faixas são cacetadas. Não tem nada nesse disco que não deixe de caracterizar o Camisa, ou seja, ele mantém a tradição sonora, a estética de linguagem, mas dá um passo adiante em termos de sonoridade”.

Marcelo Nova também abordou temas como a criação do nome da banda em meio ao clima de autoritarismo do final dos anos 70, de sua relação com o filho Drake Nova, que coproduziu o novo disco, além das parcerias históricas com Eric Burdon, vocalista do The Animals, e o lendário Raul Seixas. A entrevista conduzida pelo editor do site da 89, Willian Maier, pode ser conferida no player abaixo:


This post was last modified on 14 de julho de 2021 12:03

Redação 89: