Noel Gallagher: “Oasis retornará, se eventualmente eu precisar de dinheiro”
O Lollapalooza 2016 trouxe grandes nomes do cenário internacional para o Autódromo de Interlagos, em São Paulo, e uma das figuras mais ilustres que estiveram por aqui foi, certamente, o cantor Noel Gallagher.
Ele conversou com a equipe de reportagem da 89 para falar um pouco sobre as impressões que tem do Brasil, o mercado atual da música, seu mais recente álbum, “Chasing Yesterday”, a pretenção de ganhar um Grammy e também sobre o Oasis.
Sobre esse último tema, Noel deixou claro que não tem o mínimo interesse em voltar com sua antiga banda e se isso ocorrer será por necessidade de dinheiro.
Confira a entrevista com Noel Gallagher produzida por Wendell Correia e Rich Rafterman:
Você já esteve antes no Brasil tanto com o Oasis quanto com o seu trabalho solo. Quais são as suas impressões sobre a cultura e os fãs brasileiros?
É um lugar que eu sempre quero voltar. Nunca fiz um show ruim no Brasil. As festas depois dos shows são ótimas. As pessoas são maravilhosas. E sim, é um dos melhores lugares do mundo para se apresentar. É por isso que sempre voltamos.
Você gosta muito de futebol. Torce para algum time brasileiro?
Não. Torço apenas para o Manchester City. O único time além dele que eu gosto é o time feminino do Manchester City.
Qual é a sua opinião sobre a mudança do cenário musical atual em relação ao começo da sua carreira, especialmente na Inglaterra?
Bom, o mercado da música que eu me envolvi em 1993 não existe mais. As pessoas costumavam comprar discos e agora as gravações chegam até elas e tudo o que você tem que fazer é se preocupar em fazer isso da maneira certa. Algumas mudanças foram melhores para o consumidor. Algumas mudanças foram piores para os artistas. Mas a qualidade da música…bom, a qualidade da música pop ficou pior, foi a que mais mudou. O maior fenômeno pop no mundo é a Adele, sem dúvidas. Mas essa mudança no mercado da música não é algo que eu sento e fico lamentando. Eu ainda estou me dando bem, e isso é tudo o que importa para mim.
Qual é a parte da sua carreira que você mais gosta de fazer: compor, gravar ou sair em turnê para tocar as músicas ao vivo?
Todas essas coisas são muito importantes, por muitas razões. Estar em um estúdio e gravar um álbum e ouvir a música saindo pelas caixas de som e saber que as pessoas vão amar essa canção é uma coisa muito boa. E estar no palco e tocar essa música para as pessoas e ver que a reação delas está do jeito que você esperava também é uma coisa maravilhosa. Mas a minha parte favorita, e acho que é a mais difícil entre essas três coisas, é criar uma música do nada. Essa é a maior recompensa. Isso é muito difícil e às vezes pode ser frustrante, porque posso ficar escrevendo uma música durante dez anos e nunca terminar. E tem algumas que você escreve em cinco minutos. Então entre os três, eu prefiro a parte da composição. Mas tocar as músicas ao vivo é algo precioso e maravilhoso, você sempre quer mais disso. Eu acho que vou fazer shows até eu não conseguir mais estar fisicamente bem para me apresentar em um palco. Interagir e mexer com o público é muito bom.
Quais foram as principais inspirações para o álbum “Chasing Yesterday”?
A minha inspiração é a minha coleção de discos.
O que te deixou mais orgulhoso em “Chasing Yesterday”?
Acho que “Ballad Of The Mighty I” é uma ótima música. Assim como “Riverman”, “The Girl With X-Ray Eyes”… eu gosto de todas. Quando eu finalizo um álbum eu não sento para ouvir como ficou até eu sentir orgulho do que fiz. Porque quando eu vou para o estúdio, eu espero que fique ótimo. E se eu sinto que está ótimo, era o que eu estava esperando de qualquer jeito. Então eu não me surpreendo, nem fico pensando “nossa, o álbum está maravilhoso, estou muito orgulhoso”. Eu esperava que ficasse ótimo.
Mas você já compôs alguma música que os fãs tenham gostado mais do que você esperava ou então uma que você achou que iria surpreender mais as pessoas?
Há vinte anos, quando o Oasis estava lançando músicas como “Wonderwall”, “Don’t Lock Back In Anger” e “Some Might Say” eu estava no estúdio escrevendo algumas canções mais lado B. Eu não achava que algumas dessas músicas fariam tanto sucesso como fizeram. Entre elas, tem algumas como “Talk Tonight”, “Half The World Away”, “Listen Up” e “The Masterplan”. Elas viraram algumas das músicas favoritas dos fãs. Isso me deu uma estrutura vinte anos atrás, pois nunca pensei que essas músicas iriam ser importantes e ter um significado para alguém. E isso é uma coisa maravilhosa. Os meus fãs, embora eles amem “Wonderwall” e “Don’t Lock Back In Anger”, também tem muitas outras músicas que eles realmente amam e que a maioria não conhece. O que é um sentimento ótimo. Você sem querer toca a vida da pessoa de algum jeito.
Como você lida com o fato de as pessoas sempre falarem sobre uma possível reunião do Oasis?
Eu acho que os fãs são os que realmente gostariam que isso acontecesse. Mas eu não ligo para isso. Eu estive no Oasis por vinte anos. Fizemos tudo o que tínhamos que fazer. E se voltarmos a nos reunir será pelo dinheiro. Não tem nada errado nisso, eu realmente amo dinheiro. Mas eu não preciso do dinheiro. Se eventualmente eu precisar de dinheiro, acredite em mim: vamos nos reunir para ganhar dinheiro.
Você já fez muitas coisas na sua carreira. Ainda tem alguma coisa na indústria da música ou então até algo fora dela que você ainda quer fazer?
Tem algumas coisas que eu gostaria que acontecesse, mas que estão fora do meu alcance. Seria legal ter um álbum na primeira posição nos Estados Unidos. Eu tenho dois álbuns que ficaram na segunda posição. Seria legal se eu fosse a um Grammy e ganhasse um, ou escrever uma música para um filme e ganhar um Oscar, assim eu poderia levar a minha esposa a uma premiação do Oscar e ela ver que é mais bonita do que qualquer atriz no mundo. Mas todas essas coisas não estão sob meu controle. São as pessoas responsáveis por isso que devem decidir. Do que eu posso fazer, eu realmente gosto do processo de criar uma música e gravá-la. Eu não sento e fico pensando em coisas como “nossa, queria fazer um álbum reggae”, entende?
Mas você pensa em fazer um álbum reggae?
Eu não penso em fazer essas mudanças musicais. Não fico pensando “quero fazer um álbum dance” ou algo do tipo. Eu escrevo músicas, regularmente. E quando eu vou para o estúdio gravar, escolho as melhores entre essas músicas. E eu tenho o meu estilo e adoro tocar guitarra, e é isso. Acho que se eu fizer um álbum reggae ou de músicas dance agora, na idade em que estou, eu iria parecer um completo idiota. Então eu tento compor músicas da melhor maneira que eu conseguir na minha guitarra e tento curtir o que estou fazendo.
No player abaixo você pode ouvir a entrevista com a tradução na voz da voz da apresentadora Joana Ramos: